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Chamem-me Cassandra Fevereiro 21, 2023

Posted by paulo jorge vieira in literatura, livros.
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COMENTÁRIO
⭐⭐⭐⭐⭐
“Chamem-me Cassandra”
Marcial Gala
Tradução de Margarida Amado Acosta

Rauli/Cassandra é uma daqueles personagens literárias que ficam connosco. Intensa esta persona obriga o leitor a fazer uma viagem em torno dos modelos de transgressão de género e de constituição de subjectividades transgressivas/transgénero. Tudo parece “simples”, mas nada é “simples” neste livro. A complexidade de Rauli/Cassandra é uma das razões porque amei tanto ler este livro. Se tenho certezas sobre o que li? Não. Mas adorei o que senti e o quanto me obriga a reflectir.

Efectivamente Rauli/Cassandra é uma expressão da fluidez de género que pretende escapar aos aparatos de controlo social em sociedades marcadas por regimes fortemente militarizados. Assim na Cuba dos anos 70 esta personagem trangressora só pode ser uma vitima continua da discriminação na família, escola e na cidade. E por fim, na estrutura militar onde o seu corpo ou não tem lugar, ou é vítima de continuas formas de violência.

Por tudo isto este livro é, na sua aparente simplicidade, uma obra literária que problematiza o regime político cubano pós revolução – em especial a intervenção “internacionalista” em Angola -, mas equaciona igualmente os regimes de construção de uma masculinidade hegemónica militarizada. Veja-se as inúmeras referência tipo “a tropa vai o fazer homem”. O livro abre assim a reflexão que questiona o modo como as estruturas estatais militarizadas (re)produzem um modelo hegemónico de masculinidade.

A referência a Cassandra, personagem do mundo clássico, sacerdotisa e advinha que tinha como maldição não ser escutada e ninguém acreditar nela. Mas é igualmente uma mulher “promove” a paz. Neste sentido este é um elemento de esperança com que o autor “contagia” a nossa personagem. Como que a dizer: “apesar de tudo” Rauli/Cassandra é um arauto de paz.

Um detalhe pessoal: a importância que a leitura e os livros têm na vida de Rauli/Cassandra fizeram me viajar em outros momentos em que este interesse pelos livros é um elemento de transgressão na construção de modelo hegemónicos de masculinidade e feminidade.

Comentário final: leitura que corre rápido, mas cuidado com os detalhes escondidos na caminhada!

(li de 16/02/2023 a 21/02/2023 no âmbito da iniciativa  #transmito promovida pelo @2bejay)

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“Germana, a begonia” Fevereiro 21, 2023

Posted by paulo jorge vieira in literatura, livros.
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COMENTÁRIO
⭐⭐⭐⭐⭐
“Germana, a begonia”
Ricardo Fonseca Mota

“Como seríamos, se não tivéssemos inventado a eternidade?”

Este foi o primeiro e único livro que li, até ao momento, do Ricardo Fonseca Mota. É que momento tão especial de leitura tive. Formalmente é um texto de teatro, um monólogo. Estreou em Tábua a 14 de Outubro de 2017, véspera de um fatídico dia na história contemporânea portuguesa. Sobre a correlação entre esta história e os incêndios do dia seguinte o autor escreve uma nota breve que deve ser lida com atenção.

Da solidão, da distopia de um mundo com um fim marcado, de uma sociedade e um território em processo e em caminho para um qualquer apocalipse.
É mesmo desta dilacerante solidão da personagem única que nos fala o livro. Mas esta solidão, de cada um de nós, é também a tristeza e o vazio da sociedade que vivemos.

Aqui fica um pedaço que me encantou tanto, que volta a meio folheio o livro, e releio:
“Não se pode sair de casa. É só gente doente e esfomeada. Matam-se por tudo e por nada. Os que mais têm são os que mais roubam. Eu já não vou à rua. Vivo os meus dias aqui, sossegada. (…) Gasto grande parte do tempo a ler. E a dormir. Continuo a ter imensos livros que não li. (olha para o retrato) Sabes quantos? Eu até lhe dizia mas não sei se me gabo por saber quantos são ou se me envergonho por serem tantos. Gastei a juventude com os clássicos e tenho ainda tantos para ler. Passou tão rápido a juventude. Quero ver se isto não acaba tudo antes de os ler todos. Se ao menos dissessem uma data, mas não. Dava muito jeito saber em que dia vai acabar o mundo. Uma pessoa assim não tem condições para fazer planos.”

(li de 01/04/2022 no âmbito da iniciativa #subiropano promovida pelo João Barradas e por mim)

da paixão de ler Fevereiro 17, 2023

Posted by paulo jorge vieira in Uncategorized.
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Ler e escrever. Pensar e reflectir é essencial para mim neste tempo em que chegado aos 50 anos o que mais desejo é “viajar” no mundo e na literatura.