jump to navigation

Desiderio, de Ricardo Marques Dezembro 1, 2022

Posted by paulo jorge vieira in literatura, livros, poemas, poesia.
Tags: , , ,
add a comment

COMENTÁRIO
⭐⭐⭐⭐⭐
“Desiderio”
Ricardo Marques

Uma poética de corpo, de desejo, de ternura – por vezes -, mas essencialmente uma poética carnal.
Poemas cheios de si, de eu. Poemas que cruzam, intertextualmente, com outros que no corpo e no desejo partilham o sentido com o ente poético.
Textos a que o leitor atentamente tem vontade de voltar.

#livro #literatura #leitor #leitores #leitura #literaturaportuguesa #lerLGBTI #lgbti #queer #queerbook

#book #bookstagram #bookclub #bookstagramportugal #bookworm #booknerd #bookaddict #booklover

“Movimento” de João Luís Barreto Guimarães Fevereiro 26, 2021

Posted by paulo jorge vieira in poemas, poesia.
Tags: , ,
add a comment

“Movimento” de João Luís Barreto Guimarães, Quetzal, Lisboa, 2020 (li de 06/12/2020 a 03/01/2021)

A sinopse da Quetzal diz sobre este livro que: “é uma poesia da observação e de memória, tanto das coisas grandiosas como, sobretudo, de instantes «menores» e acontecimentos rápidos: de um domingo de Páscoa na cidade de Mostar a uma cadeira de café, dos poemas de Catulo e Horácio aos gatos dos cemitérios, João Luís Barreto Guimarães transporta-nos a um quotidiano bélico sob o signo de um tempo duro, onde coexistem o belo e o trágico, a ironia e a História, em instantes de onde emerge – ora terno, ora tenso – o movimento da vida.”.

Do autor tinha lido os livros “Mediterrâneo” (2016) e “Nómada” (2018). Foram surpresas no prazer da descoberta de uma poesia cheia de viagem e imaginários geográficos intensos. 

Este novo livro, volta a ter os espaços e os territórios como elementos centrais. E volta a ter a mobilidade como fundamento da sua reflexão poética. Mas por outro lado, uma densidade escura inunda este quadro poético plasmando a dureza, a crueldade e a fealdade dos tempos que vivemos. E assim este é um livro de uma poética triste. Ou então, é triste a minha leitura desta bela poética.  

Segunda-feira outra vez 

Não deves 

baixar a guarda. Nunca podes 

Descansar. Quando julgas que passou (que

podes limpar o sangue

dar duas voltas à chave

varrer os livros partidos) há-de sempre 

haver alguém (o

Mestre ou

um discípulo) que quer o que tu criaste

achou interessante o que é teu (a

tua alquimia

de Midas). É como se trasnformasses rosas

em vinho tinto 

e quem de nós nunca os viu: aos

verdugos

a comungar? Então não

tens outro arbítrio do qeu arrepiar as mangas

(encher o punho de tinta) e

disparar a matar. 

***

O ralo

Retiro a tampa da prata do 

ralo do lavatório e por instante parece

que o ralo aspira tudo tudo

(a barba na loiça branca

uma semana

feita em espuma) logo seguida do ar

que me rodeia

e enlaça (a

expiração exausta de

dias irreversíveis) cedo seguida dos

sons que

trabalham em redor (o

eco das vozes de ontem

o próprio

silêncio cúmplice) tudo isso pelo

ralo

num torvelinho especial que suga (de  

uma só vez ) a alegria e 

a culpa 

(uma tristeza infecciosa

este vazio amargo) isso a que 

chamam presente

(quer eu dizer:)

passado. 

***

Instruções para engolir a fúria

Na

hipótese de precisares de engolir a fúria 

utiliza um cop esquinado no qual

(acidentalmente)

possas dilacerar o lábio. Não te ocorra rejeitar 

a primeira água da torneira essa

que habitualmente vem

turva e

enferrujada. Coloca uma dose de raiva (ou

outro genérico da fúria)

na parte

posterior da garganta

aí mesmo onde pressintas maior

desconforto ao

engolir. Reconhece (ainda quente) a cólera

(o globo

da náusea) e deglute de uma só vez

sangue ferrugem e ira até 

te subir à boca alguma invectiva impoluta

(por exemplo:)

“Filhos da puta!”

lembrar David Mourão Ferreira Fevereiro 24, 2021

Posted by paulo jorge vieira in poesia.
Tags: ,
add a comment

David Mourão-Ferreira (Lisboa, 24 de fevereiro de 1927 — Lisboa, 16 de junho de 1996) foi um escritor e poeta português. Aqui fica um poema seu para o lembrar na sua data de nascimento. E já agora, não deixem de ler o romance “Um amor Feliz”.

Nem o Tempo tem tempo
para sondar as trevas

deste rio correndo
entre a pele e a pele

Nem o Tempo tem tempo
nem as trevas dão tréguas

Não descubro o segredo
que o teu corpo segrega



David Mourão Ferreira
Obra Poética

Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos. Fevereiro 16, 2021

Posted by paulo jorge vieira in poemas, poesia.
Tags:
add a comment

Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais

este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.

Fecha os olhos agora e sossega o pior já passou

há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão

desvia os passos do medo. Dorme, meu amor –

a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste

e pode levantar-se como um pássaro assim que

adormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombra

não hão-de derrubar-me eu já morri muitas vezes

e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos

agora e sossega a porta está trancada; e os fantasmas

da casa que o jardim devorou andam perdidos

nas brumas que lancei ao caminho. Por isso, dorme,

meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e

nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já

olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui,

de guarda aos pesadelos a noite é um poema

que conheço de cor e vou cantar-to até adormeceres.

Maria Do Rosário Pedreira

(pmr) Amo-te nesta ideia nocturna da luz nas mãos Janeiro 3, 2021

Posted by paulo jorge vieira in poemas, poesia.
Tags:
add a comment

Amo-te nesta ideia nocturna da luz nas mãos


Amo-te nesta ideia nocturna da luz nas mãos
E quero cair em desuso
Fundir-me completamente.
Esperar o clarão da tua vinda, a estrela, o teu anjo
Os focos celestes que a candeia humana não iguala
Que os olhos da pessoa amada não fazem esquecer.
Amo tão grandemente a ideia do teu rosto que penso ver-te
Voltado para mim
Inclinado como a criança que quer voltar ao chão.

Daniel Faria

“Poesia”, Assírio & Alvim, Porto, 2012, p. 245

(pmr 34) ode à mentira Março 6, 2019

Posted by paulo jorge vieira in poemas, poesia.
Tags: , ,
add a comment

Crueldades, prisões, perseguições, injustiças, 
como sereis cruéis, como sereis injustas? 
Quem torturais, quem perseguis, 
quem esmagais vilmente em ferros que inventais, 
apenas sendo vosso gemeria as dores 
que ansiosamente ao vosso medo lembram 
e ao vosso coração cardíaco constrangem. 
Quem de vós morre, quem de por vós a vida 
lhe vai sendo sugada a cada canto 
dos gestos e palavras, nas esquinas 
das ruas e dos montes e dos mares 
da terra que marcais, matriculais, comprais, 
vendeis, hipotecais, regais a sangue, 
esses e os outros, que, de olhar à escuta 
e de sorriso amargurado à beira de saber-vos, 
vos contemplam como coisas óbvias, 
fatais a vós que não a quem matais, 
esses e os outros todos… – como sereis cruéis, 
como sereis injustas, como sereis tão falsas? 
Ferocidade, falsidade, injúria 
são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso 
o coração que apavorado em vós soluça 
a raiva ansiosa de esmagar as pedras 
dessa encosta abrupta que desceis. 
Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo. 
Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos? 
Descereis, descereis sempre, descereis. 

Jorge de Sena

(pmr33) a solidão dos homens cansados Janeiro 9, 2019

Posted by paulo jorge vieira in poemas, poesia.
add a comment

The Tired Man (c.1956) Robert Dickerson

A

cada dia que passa me sinto mais fatigado. Um

homem procura ternura

no seu regresso a casa (um

homem não vê o instante em que despe

o ultraje) quando

sai de pés descalços pelo soalho da tarde em

busca de um

copo de olvido. Um homem conhece a casa

pelo gato à janela –

duas pupilas acesas sentam-se

à mesma mesa

sentam-se à mesa da alma. E a casa recebe o homem

com uma noite sempre nova

(um homem entrega tudo a quem o

salve do exílio)

quem lhe aplaque a solidão que existe nos

homens cansados.

“Nómada” de João Luís Barreto Guimarães, Quetzal, Lisboa, 2018, pp. 65

o poema é o que no homem para lá do homem se atreve Setembro 13, 2018

Posted by paulo jorge vieira in poemas, poesia, Uncategorized.
Tags: , ,
add a comment

natalia-correia.jpg

Natália Correia (13/09/1923-16/03/1993)

O poema
O poema não é o canto
que do grilo para a rosa cresce.
O poema é o grilo
é a rosa
e é aquilo que cresce.

É o pensamento que exclui
uma determinação
na fonte donde ele flui
e naquilo que descreve.
O poema é o que no homem
para lá do homem se atreve.

Os acontecimentos são pedras
e a poesia transcendê-las
na já longínqua noção
de descrevê-las.

E essa própria noção é só
uma saudade que se desvanece
na poesia. Pura intenção
de cantar o que não conhece.
Natália Correia, em “Poemas”. 1955.

(pmr) … nada quero, tudo enjeito, o maior bem me aborrece… Junho 19, 2018

Posted by paulo jorge vieira in poemas, poesia, Uncategorized.
Tags: ,
add a comment

pass

 

Nada quero, tudo enjeito,

o maior bem me aborrece,

o prazer me entristece

e o viver, porque é sujeito

a quem dele assim se esquece:

se morro acaba o mal,

fim não queria ver;

se vivo, o padecer

desta dor é tão mortal

que me não posso valer.

 

(poema anónimo português do século XVI)

FUNERAL BLUES Março 19, 2018

Posted by paulo jorge vieira in poemas, poesia, Uncategorized.
Tags: ,
add a comment

Anastasia-Tompkins_Paris-Through-The-Clock_Musée-dOrsay.jpg

FUNERAL BLUES

 

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,

Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,

Silenciem os pianos e com os tambores em surdina

Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre.

 

Que os aviões voem sobre nós lamentando,

Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,

Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade,

Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão.

 

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,

A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,

O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;

Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me.

 

Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;

Emalem a lua e desmantelem o sol;

Despejem o oceano e varram o bosque;

Pois agora tudo é inútil.

 

W.H. Auden

poema com tradução de Maria de Lourdes Guimarães

 

auden.jpg